Na vida, nada deve ser receado, tudo deve ser compreendido.
Marie Curie

terça-feira, 3 de abril de 2012

Anorexia



Na sociedade actual, a relação entre a mulher e o seu corpo tornou-se mais evidente, uma vez que a exigência de um corpo magro, esquálido por vezes, entendido como um padrão de beleza exigido pela moda sobretudo, recai principalmente sobre o sexo feminino. A preocupação com o corpo tornou-se uma revelação frequente nos relatos clínicos, centrando-se na imagem corporal e se estão mais ou menos gordas. Por consequência vem a preocupação com a comida e uma batalha com exercícios físicos, dietas e contagem de calorias. Existem mulheres que vivem uma autêntica tirania da magreza, suprimindo completamente os alimentos, causando sérios danos físicos e psíquicos e imenso sofrimento para elas e para a família. É tudo isto que gira em torno desta imagem de beleza que podemos apelidar de cadavérica, ou uma doença que se esconde por detrás de um padrão de beleza, o facto é que uma doença mortal quando não tratada.

É uma doença com características específicas. Trata-se de uma disfunção alimentar caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar (caracterizando em baixo peso corporal) e stresse físico. É uma doença complexa que envolve componentes psicológicos, fisiológicos e sociais. O sujeito com anorexia nervosa é chamado de anorético.

Esta doença afecta essencialmente adolescentes do sexo feminino e jovens mulheres, mas também alguns rapazes. No caso dos jovens adolescentes de ambos os sexos, poderá estar ligada a problemas de auto-imagem, dismorfia, dificuldade em ser aceito pelo grupo, ou em lidar com a sexualidade genital emergente, especialmente se houver um quadro neurótico (particularmente do tipo obsessivo-compulsivo) ou história de abuso sexual ou de bullying. A taxa de mortalidade da anorexia nervosa é de aproximadamente 10%, uma das maiores entre qualquer transtorno psicológico.

A anorexia é reconhecível pela insistência que as pacientes apresentam em manter um peso abaixo do padrão de normalidade, que é o resultado da privação alimentar apesar de sofrerem terrivelmente com a fome. Esta doença começa geralmente a partir de uma dieta em que são restringidos muitos alimentos considerados “ alimentos que engordam”, conduzindo com o decurso da doença a uma perda de peso muito acentuada apresentando a adolescente ou mulher jovem um corpo esquálido e quase andrógino. Aos poucos passa-se a viver exclusivamente em função da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, o que dificulta o convívio social, tornando-se este por vezes inexistente.
A intensa ligação com a comida, (patológica é claro) em alguns casos, torna o hábito alimentar cada vez mais secreto, bizarro e ritualizado, ao ponto de por vezes, ainda no início ninguém se aperceber do problema a não ser pelo facto da adolescente ou mulher estar cada vez mais magra. Em estados muito avançados as pacientes deixam de fazer a sua vida normal, quase sempre por incapacidade física, levando a internamentos muitas vezes com estados muito debilitados, que podem ser fatais, pois o corpo desnutrido deixa de funcionar levando ao colapso de órgãos vitais, tais como o coração e os rins. Quando as adolescentes resistem à vontade de ingerir comida, tal é sentido como um triunfo, mas se pelo contrario não o conseguem fazer quer por imposição da família, ou aspectos sociais, então sentem-se tristes e deprimidas, levando a hábitos de esconder comida para não a ingerirem, não se sentarem à mesa com a família com a desculpa de estudar e irem comer para o quarto ou outros afazeres urgentes, ou então na impossibilidade de restringir os alimentos provocarem o vomito para controlar o peso.


Outros Sintomas salientes:
  • Peso corporal em 85% ou menos do nível normal.
  • Prática excessiva de atividades físicas, mesmo tendo um peso abaixo do normal.
  • Em mulheres, ausência de ao menos três ou mais menstruações. A anorexia nervosa pode causar sérios danos ao sistema reprodutor feminino.
  • Diminuição ou ausência da líbido; nos rapazes poderá ocorrer disfunção eréctil e dificuldade em atingir a maturação sexual completa, tanto a nível físico como emocional.
  • Crescieento retardado ou até paragem do mesmo, com a resultante má formação do esqueleto (pernas e braços curtos em relação ao tronco).
  • Descalcificação dos dentes; cárie dentária.
  • Depresssão profunda.
  • Tendências suicidas.
  • Bulimia, que pode desenvolver-se posteriormente em pessoas anoréxicas.
  • Obstipação grave.

Tratamento

A ideia que a anorexia é uma doença de causas orgânicas tem sido passada de alguma forma por quem encontra explicação para tudo no biológico. No entanto está provado desde há algum tempo que a anorexia é uma doença psicológica que se traduz depois em manifestações físicas e psicológicas. Tal confusão, que traduz a anorexia numa doença apenas do comportamento alimentar, pode ser extremamente perigoso, pois pode conduzir à eliminação dos sintomas físicos, pela ingestão de alimentos e descurar a parte psicológica verdadeira causadora da doença. A anorexia é uma doença do foro emocional, em que os afectos estão perturbados por isso incapazes de deixarem o corpo funcionarem levando a comportamentos de oposição pela retirada voluntária dos alimentos, virando ao que parece uma raiva surda contra si próprias que faz as adolescentes definharem perante os olhos dos pais e amigos, como se através de um corpo magro exibissem o sofrimento e o horror da sua vida interna. De salientar que esta doença requer ajuda especializada, envolvendo uma equipa multidisciplinar (médicos psiquiatras e psicoterapeutas) onde o acompanhamento psicológico psicoterapeutico é fundamental para o tratamento desta doença. Quando não tratada pode levar à morte.

Deve-se ter, por isso, em conta duas vertentes, a psicoterapêutica e a farmacológica. Deve ter-se em mente a importância de uma relação médico-paciente satisfatória, uma vez que a negação pelo paciente é muitas vezes presente. Dependendo do estado geral da paciente pode-se pensar em internação para restabelecimento da saúde. Correção de possíveis alterações metabólicas e um plano alimentar bem definido são fundamentais. O tratamento deve abordar o quadro psicológico, podendo ser principalmente a psicoterapia individual. Em relação a abordagem farmacológica tem-se utilizado principalmente os antidepressivos, mas que é uma área que carece de muitos resultados satisfatórios tendo em vista a multicausalidade da doença. Dessa forma, é importante uma abordagem multidisciplinar, apoio da família e aderência do paciente. As recaídas podem acontecer, daí a importância de se ter um acompanhamento profissional por grandes períodos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.