Na vida, nada deve ser receado, tudo deve ser compreendido.
Marie Curie

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Atraso do desenvolvimento da linguagem


 
O termo atraso no desenvolvimento da linguagem é um termo genérico para englobar os atrasos na aquisição e/ou de desenvolvimento da linguagem, sem que existam sintomas de défice intelectual, sensorial ou motor (Bautista, 1997).
 
A comunicação humana é um fenómeno complexo e o processo neurológico que nos permite compreender e produzir linguagem corresponde a essa complexidade. A aquisição alterada da linguagem pode constituir um problema isolado ou traduzir uma perturbação mais global do desenvolvimento. Qualquer que seja a etiologia, a criança deverá ser avaliada em relação às suas capacidades verbais e linguísticas, audição e desempenho cognitivo global, sendo instituído um plano de intervenção individual. Com a maturação e intervenção adequadas, a maioria dos problemas de linguagem tem uma evolução favorável.

O atraso da linguagem ou da fala constitui um dos principais motivos de envio a consultas de desenvolvimento e terapia da fala. A preocupação dos pais acerca da aquisição da linguagem pelos seus filhos, deve ser sempre tomada em consideração de forma séria e motivar uma avaliação adequada do seu nível funcional. A etiologia que desencadeia este tipo de atraso é de origem variada. Contudo, pode-se agrupar algumas causas de forma simples: variação relativa ao ambiente familiar que pode resultar da superprotecção familiar; de abandono familiar; separações; morte de membros da família; variáveis socioculturais resultantes da falta de estruturação linguística, do baixo nível sociocultural ou de situações de bilinguismo mal integrado; e de outras variáveis como por exemplo, factores hereditários.
 
Quando uma criança evidencia atraso significativo na aquisição da linguagem, é muito importante para o esclarecimento, diagnóstico e orientação, tentar responder às seguintes questões:
1. Como é o desenvolvimento da criança nas restantes áreas?
2. Existe alguma suspeita relativa à audição da criança?
3. A criança não fala mas parece compreender o que lhe dizem de acordo com a sua idade? (Aqui é importante ter em atenção as pistas não-verbais a que a criança está geralmente atenta e que podem dar uma falsa noção de compreensão verbal)
4. A criança não fala mas é ou não comunicativa? Tem tendência a isolar-se ou a
evitar o contacto com as outras crianças?
5. Existe um padrão de aquisição tardio da fala nalgum familiar?
 
A resposta a estas questões pode fornecer pistas importantes para o diagnóstico diferencial. Na grande maioria das situações, o atraso da linguagem não é mais do que uma faceta de um atraso global do desenvolvimento, sendo por isso necessário, a sua avaliação e intervenção o mais precocemente possível.
Nos últimos anos, tem-se assistido a uma mudança de atitudes, com tendência a valorizar mais precocemente os atrasos na aquisição da linguagem, particularmente quando estes se associam a ausência de interacções comunicativas. Devem ser
referenciadas as crianças que apresentem como sinais de alerta:
 
- Ausência de qualquer palavra simples, aos 18 meses;
- Ausência de qualquer frase, aos 24 meses;
- Linguagem incompreensível por estranhos, aos 3 anos;
- A associação de palavras não surge até aos 3 anos;
- Vocabulário reduzido aos 4 anos;
- Uso não comunicativo da linguagem;                        
- Desinteresse em comunicar;
- Compreensão da linguagem superior à expressão;
- Desenvolvimento do gesto como meio de comunicação.
 
 
A intervenção é essencialmente educacional, visando reforçar a interação social e a intenção comunicativa na criança.
Os estímulos usados, método e contexto em que decorrem as sessões de terapia da falasão utilizados de forma a aproximar a criança das experiências comunicativas da vida real. A finalidade da intervenção consiste em dotar a criança de um reportório linguístico que possa ser utilizado para comunicar de forma socialmente adequada no seu contexto habitual e adaptar esse contexto de modo a estimular e facilitar o desenvolvimento global da linguagem.
Uma aproximação funcional reconhece a necessidade de orientar a intervenção na linguagem de forma a incluir familiares e professores, como facilitadores da comunicação e utilizar situações da vida diária para encorajar uma comunicação funcional, num contexto de experiência significativas e com um padrão próximo ao das crianças sem problemas de linguagem, visando a generalização das aprendizagens. O papel do terapeuta da fala transforma-se no de um consultor para os facilitadores da linguagem que interagem com mais frequência com a criança.
 
Por: Liliana Silvestre

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Consultório Psicologia Clínica e Terapia da Fala

O Consultório de Psicologia Clínica em Beja, situado na morada ao lado referida, dispõe também do serviço de Terapia da Fala.

Quem é o Terapeuta da Fala?

Atualmente em Portugal, ainda existe um número alarmante de pessoas, quer da população em geral quer do meio profissional, que não está consciencializado e devidamente informado sobre o papel do terapeuta da fala. Nesse sentido, compete referir que o Terapeuta da Fala é o profissional de saúde responsável pelo desenvolvimento de atividades no âmbito da prevenção, avaliação e tratamento da deglutição e das perturbações da comunicação humana, englobando não só todas as funções associadas à compreensão e expressão da linguagem oral e escrita como também outras formas de comunicação não verbal.
De modo a sistematizar a informação anteriormente referida, é  exibido sucintamente as principais áreas de atuação do Terapeuta da Fala, assim como as perturbações alvo de intervenção.  

Linguagem
Atraso do desenvolvimento da linguagem (ADL)
Perturbação específica da linguagem (PEL)
Afasia
Perturbação da leitura, escrita ou cálculo (dislexia,  disgrafia/disortografia, discalculia)
Articulação
Perturbação articulatória
Perturbação fonológica
Perturbação fonético-fonológica
Disartria
Apraxia do discurso
Fluência
Gaguez
Taquifémia
Deglutição
Disfagia
Voz
Disfonia

Quando se deve procurar a ajuda de um Terapeuta da Fala? 
Deve-se procurar o Terapeuta da Fala sempre que se se verificam sinais como:

Linguagem na criança:
  • Comunica utilizando apenas gestos;
  • Aos 2 anos não diz palavras;
  • Aos 2 anos não identifica objectos ou não cumpre ordens simples;
  • Aos 3 anos utiliza menos de 50 palavras;
  • Aos 3 anos não constrói frases imples;
  • Aos 3 anos não executa ordens com noções espaciais;
  • Aos 5 anos apresenta alterações evidentes num dos domínios linguísiticos.

Linguagem nos adultos:
  • Após lesão cerebral com compromisso das áreas da linguagem;
  • Quando o discurso se apresenta desorganizado, sem coerência e ligação adequada de ideias;
  • Apresenta uma linguagem desadequada aos contextos comunicativos.

Voz:
  • Ao fim do dia sente a voz cansada e rouca;
  • Falta de controlo na intensidade e na frequência;
  • Apresenta uma voz hiponasal (como se estivesse constipado);
  • Apresenta pigarreio frequente;
  • Sensação de ardor na zona laríngea e falta de ar.

Fala:
  • Aos 3 anos a criança apresenta um discurso ininteligível;
  • Aos 4 anos a criança omite ou troca sons na produção verbal;
  • Aos 5/6 anos a criança gagueja enquanto fala.

Leitura e Escrita:
  • A criança lê de forma silabada;
  • Omite ou substitui letras na leitura e/ou na escrita;
  • Inverte sílabas na leitura e/ou na escrita;
  • Apresenta dificuldades na interpretação dos textos;
  • Apresenta dificuldades na estruturação e no conteúdo das frases.

Por: Liliana Silvestre -  Terapeuta da Fala

Dislexia


                                       

O que é a Dislexia?

Designa-se por dislexia as dificuldades de leitura, escrita e/ou soletração apresentadas pela criança aquando da ausência de qualquer outra limitação ou alteração das capacidades intelectuais.

Pode ser classificada como:
*Dislexia adquirida quando surge como consequência de um traumatismo ou de uma lesão cerebral;
*Dislexia de desenvolvimento que remete para uma perturbação ou atraso na aquisição de leitura que se relaciona com problemas na aprendizagem;
*Dislexia central, quando a produção de palavras escritas ou a leitura das mesmas é afectada;
*Dislexia periférica que ocorre apenas quando é afectado um modo de saída de vocalização e escrita;
*Dislexia profunda ou fonológica, caracterizada pela ocorrência de erros semânticos (por exemplo, o sujeito lê carro quando deveria ter lido roda), e por grande dificuldade em ler palavras menos recorrentes ou desconhecidas;
*Dislexia de superfície ou ortográfica que remete para a dificuldade de leitura de palavras irregulares, ou seja, que se lêem de forma diferente à da escrita (por exemplo, a palavra “guizo”, não se lê a letra “u”).

Os primeiros sinais de dislexia surgem, por norma, na escola aquando da aprendizagem. Algumas crianças apresentam problemas de aprendizagem, dificuldades na linguagem oral, não associam símbolos gráficos às suas componentes auditivas, apresentam dificuldades em seguir as instruções e orientações, na memorização auditiva, apresentam problemas de atenção e ou de lateralidade. Na leitura e na escrita, o sujeito tende a confundir  algumas letras como, a letra “f” com a letra “v”, “p” com “b”, “ch” com “j”; “p” com o “t”, “v” com “z”, “b” com “d”, entre outras, ou então pode fazer possíveis inversões, como por exemplo,”ai”em vez de “ia”, “per” em vez de “pré”, “fla” em vez de “fal”, “cubido” em vez de “bicudo”, ou pode ainda apresentar omissões de determinadas letras o sons na palavra, como por exemplo, “livo” em vez de “livro”, “bata” em vez de “batata”.

A intervenção do Psicólogo prende-se com o ajudar a criança a melhorar e a ultrapassar as dificuldades apresentadas. Na dislexia profunda é possível a reeducação fenológica onde se aplicam exercícios que fazem o sujeito tomar consciência fonética. A Psicologia em complemento da Terapia da Fala, são o tratamento certo e adequado nestes casos. Procura aqui a sua ajuda!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Antidepressivos (Psicofarmacologia)

 
Nos dias que correm, os Antidepressivos são a forma predominante no tratamento da depressão, essencialmente por desconhecimento dos seus efeitos e de alternativas a este tratamento, uma vez que a maior parte destes diagnósticos são feitos por médicos que não têm formação ao nível da psicologia e da psiquiatria e defendem que apenas os medicamentos tratam a depressão.
 
Existem vários tipos de antidepressivos. Os que circulam mais são os (ISRS) Inibidores Selectivos de Recaptação da Serotonina, de que fazem parte o tão aclamado Prozac, o Paxetil, o Zoloft e o Cipralex. O fato de terem como nome “antidepressivos” é um tanto insidioso uma vez que não curam a depressão, apenas a atrasam e disfarçam.
 
Os antidepressivos são estimulantes da linhagem das anfetaminas que têm como função acelerar o organismo através da ação das neurohormonas, neuropeptideos e neurotransmissores como a noropinefrina e serotonina. O estímulo que o antidepressivo provoca no organismo faz com que o sujeito se sinta melhor, no entanto a sua ação é muito mais vasta, pois provoca grandes alterações psíquicas e físicas, com uma importância enorme para a saúde. Alguns autores defendem que os antidepressivos não “existem”, uma vez que, se o fossem na realidade, tratariam com eficácia a depressão o que não acontece.
 
O Prozac, por exemplo, é utilizado em curas de emagrecimento repentinas, com compostos feitos nas farmácias e que ninguém sabe a sua composição. Grande parte desses compostos, receitados pelos médicos que trabalham na área, têm por base a Fluoxetina, genérico do Prozac, mas, quem os ingere desconhece o que está a tomar.
 
Se pensarmos que grande parte das pessoas que tomam antidepressivos por um período de tempo razoável (mais de dois anos) começam a perder funções cognitivas com alguma rapidez, então imagine-se o que fazem a quem os toma muitos anos, no caso de pessoas gravemente deprimidas e que não vão além das consultas de psiquiatria. É raros os psiquiatras recomendarem às pessoas com depressão que façam psicoterapia, a não ser, que sejam psicoterapeutas ou psicanalistas. Existem estudos que comprovam que a eficácia da psicoterapia é superior ao medicamento e, como os efeitos da psicoterapia nomeadamente da psicanalítica são duradoiros, ou seja, o que foi adquirido em termos de auto-estima e autonomia permanece.
 
Efeitos prolongados dos antidepressivos:
 
*retenção urinária;
*convulsões;
*cáries dentárias;
*distúrbios sexuais;
*esatdos confusionais;
*psicose;
*alterações hematológicas e hepáticas, neurológicas, ósseas, musculares, gastrointestinais;
*entre outros...
 
Diantes destes efeitos secundários, a toma de antidepressivos, deveria ser a última opção a procurar. Depois da procura de uma psicoterapia/ajuda psicológica que seja adequada ao sujeito. Caso a psicoterapia não funcione ao fim de dois meses sensivelmente, deve aí procurar-se um tratamento combinado, psicoterapia e psiquiatria a fim de ajudar no processo de psicoterapia.
 
Muitas pessoas que tomam antidepressivos durante anos sem resultados, se fossem encaminhadas para uma psicoterapia, evitariam muitos problemas no círculo em que se movimentam, tais como, família e emprego, uma vez que o desgaste de quem está à volta de pessoas com depressão é muito intenso.
 
Contudo, saliento que existem outras situações em que a ajuda dos antidepressivos é necessária, como na Esclerose Multipla, Fibromialgia e demências tipo Alzheimer, entre outras que não estão aqui mencionadas. Desta forma,  é de grande importância a realização de um diagnóstico correto. Se é depressão por falta de auto-estima, afeto, ou perda significativa, ou se é uma doença com sintomas de depressão, não é necessário a toma de antidepressivos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A Crianças e o Divórcio dos Pais


 
 
Os pais ou figuras parentais (porque nem sempre os pais biológicos são os que criam e educam) são as figuras principais na formação e desenvolvimento dos processos psíquicos da criança. A criança é afetiva ou não consoante a relação que desenvolve com as figuras parentais assim como a relação estabelecida entre o casal. É no meio desta relação dos pais como casal e em que a criança é um terceiro elemento, que esta aprende a triangular as suas relações e que irá permitir a entradas de terceiros na sua vida.

Seja em que idade for, o divórcio dos pais torna-se sempre uma situação traumatizante na criança. Nas idades mais tenras, a criança apresenta agitação acentuada, confusão, vulnerabilidade e tente a culpabilizar-se por esta separação. Em idades maiores as crianças tendem a ficar tristes e na maior parte dos casos surge mesmo a depressão, os transtornos psicossomáticos em que se queixam muito de dores de cabeça, barriga ou estomago, enjoos, vómitos, diarreias… em ambas as situações existem um prejuízo para um bom decorrer da adolescência e depois da idade adulta.

Em situações de divórcio, o casal acaba por se central em si mesmos e perante o enredo da situação fica menos disponível para os filhos levando a uma maior ausência de interações protetoras e segurizantes na relação que nesta fase são cruciais e a falta destas pode levar a dificuldades a nível do relacionamento das crianças com os amigos, o professor, outros familiares e até da própria criança consigo mesma. Determinadas situações vividas pelos casais que se estão a separar como, quando a criança se sente um vai e vem entre os pais, quando um dos pais a utiliza para denegrir a imagem do outro, quando fazem chantagem, agridem, entre outras, podem comprometer o desenvolvimento emocional futuro da criança. Mesmo sendo o divórcio entre opai e a mãe, a criança também passa e sente a situação de divórcio pois terá de separar dentro de si o que outrora tinha unido. Surgem os mecanismos de defesa como a negação e a recusa que leva a criança a efetuar tentativas de juntar os pais, alimentando a esperança de que estes se voltarão a entender e que aos olhos da criança pode não passar de uma ilusão.

Durante esta fase, a cabeça da criança está ocupada demais e preocupada de mais com as tentativas de reconciliação dos pais e os seus interesses e fantasias, as atividades escolares, vão ser postas de lado. As notas na escola vão baixar, o interesse pelas brincadeiras diminui significativamente, o que levará a criança a uma instabilidade enorme.

Em idades a partir dos 10 anos sensivelmente, e a partir dessa idade, os sintomas que podem surgir são essencialmente a criança parecer apresentar uma maturidade que na realidade não tem, adotando posições de distância com um controlo excessivo, a fim de negar os sentimentos de vergonha e neutralizar a ansiedade, assim como sondar os limites da situação familiar face a uma nova realidade. É nestas circunstâncias que surgem muitas vezes comportamentos como o experimentar de álcool, drogas ou o iniciar a visa sexual em busca de um companhia que combata o sentimento de abandono consequente do desmoronar da família. Várias crianças e adolescentes não aceitam a separação dos pais e começam a agir a dor que sentem através de comportamentos agressivos que manifestam desgosto e hostilidade. Tendem muitas vezes a culpar a figura paternal com quem vivem e quando visitam o outro não têm por norma demostrar o mesmo comportamento por receio de mais destruição entre os dois. Mais vale ter uma relação insegura que ser abandonado! Este é o sentimento que acompanha a criança constantemente.

Deve ter-se em conta que o risco de desequilíbrio psicológico da criança devido ao divórcio dos pais aumenta caso esta já tenha uma predisposição para a vulnerabilidade por antecedentes familiares de depressão ou pela própria perda ou reavivar de outras perdas mais precoces.

O divórcio não é sinónimo do fim de uma luta entre os pais, o casal muitas das vezes reaviva até os problemas não se conseguindo descentrar dos seus problemas e por isso não conseguinte gerir os dos filhos conjuntamente. A simples imposição de certos limites leva a discussões que provocam grande confusão na criança como por exemplo se a criança pede pra ir a casa de um amigo e o pai diz que não mas depois a mãe diz que sim. Vai-se instalando uma tal confusão mental na criança que se vê constantemente no meio dos pais em que cada um denigre a imagem do outro dia após dia.

É claro que o impacto que a separação dos pais causa nos filhos depende da estabilidade daquele com quem a criança ficar. A fragilidade afetiva dos pais a seguir a um divórcio faz com que fiquem menos capazes de entender as necessidades dos filhos e a criança sofre muito com isto pois acaba por ser utilizada como instrumento de negociação entre os pais muitas das vezes, isto, quando os pais estão deprimidos e tentam absorver a criança como busca de companhia e de apoio. A criança fica desgastada afetivamente e vê-se forçada a ser o amparo do pai ou da mãe deprimida.


Nestas situações, a busca de uma ajuda especializada poderá evitar danos enormes na vida futura desta criança!