Na vida, nada deve ser receado, tudo deve ser compreendido.
Marie Curie

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Suicídio


A autodestruição surge após várias perdas, fragmentos de dias perdidos ao longo dos anos, rupturas, pequenos conflitos que se acumulam hora a hora, a tornar impossível olhar para si próprio. O suicídio é uma estratégia, às vezes uma táctica de sobrevivência quando o gesto falha, tudo se modifica em redor após a tentativa. E quando a mão certeira, não se engana no número de comprimidos ou no tiro definitivo, a angustia intolerável cessa nesse momento e, quem sabe, uma paz duradoura preenche quem parte. Ou, pelo contrário e talvez mais provável, fica-se na duvida em viver ou morrer, a cabeça hesita até ao ultimo momento, quer-se partir e continuar cá, às vezes deseja-se morrer e renascer diferente.”

                                                 Daniel Sampaio
in “ Tudo o que temos cá dentro” pág. 152.

A maior parte das pessoas que se suicida, ou tenta o suicídio, não quer morrer. O que acontece é que vêem essa opção como uma solução para os seus problemas e uma forma de acabar com sua dor e o seu sofrimento. As pessoas que consideraram seriamente o suicídio sentem desesperança, desamparo, e desvalia.
Grande parte destes sujeitos apresentam uma história familiar e tentativas de suicídio ou suicídio consumado; uma história pessoal ou familiar de severa ansiedade, depressão ou outro distúrbio de saúde mental como a patologia Borderline ou Bipolar, por exemplo; ou ainda, problemas de ácool ou grogas.

Mecanismos Psíquicos que podem levar ao suicídio:
 * Situações de sofrimento intenso em que o sujeito se esforça para se libertar do que pensa ser a origem do seu sofrimento. Ao não poder atacar o outro, a experiência da dor pode ser posta no próprio self, aparecendo a autodestruição como equivalente à destruição do outro, que não ama nem compreende;

* A dor interna intolerável implica uma tentativa de eliminação do sítio da dor, ou seja, o suicídio surge como forma de pôr fim àquela angústia devoradora;

* A autodestruição pode aparecer como forma de obter uma resposta desejada daquele que se ana e que, sem esse comportamento externo, parece insensível;

* Pode surgir como forma de vingança relativamente ao outro que se ama e que não retribui;

* O suicídio pode ainda, estar relacionado com um desejo irresistível para a autodestruição, de que são exemplo os condutores suicidas ou pessoas que colocam a sua viva em constante perigo.

O que fazer quando alguém está em crise suicidária?

Antes de mais, é preciso ter presente que nem sempre é possível nem fácil de perceber que a pessoa se encontra numa crise porque apenas se se for muito próximo desta será possível compreender um pouco o seu sofrimento. As pessoas deprimidas, nem sempre manifestam intenções de cometer o suicídio, no entanto, podem fazê-lo. Deve-se estar atento a alterações na forma de vida destes sujeitos que possam ser entendidos como indicadores de sofrimento psíquico.
Falar sobre o suicídio com alguém que pretende consumá-lo, não precipita este acontecimento, pelo contrário, pode fazer com que o sujeito se sinta compreendido e consiga ver as coisas de uma outra forma.
É muito importante que se procure uma ajuda imediata de um serviço ou de um psicólogo que faça intervenção na crise, quase sempre é necessária a intervenção psiquiátrica com a terapêutica farmacológica para  o impedimento deste acto.
Não se deve deixar sozinha a pessoa que já ameaçou suicidar-se.
Deve procurar-se ajuda sempre que existam indicios de alteração de comportamento como tristeza permanente, escritos que mencionem a vontade de morrer, desleixo pessoal, bebida em excesso, consumo de drogas, procura de conflitos disruptivos, entre outros, ou comportamentos por verbalização da intenção de se suicidar.

Intervenção

A intervenção começa por uma avaliação dos riscos de novas tentativas de suicídio. Muitas vezes a gravidade dos sentimentos de culpa ou de raiva podem levar a novos atos de autoagressividade.
Posteriormente a intervenção pode requerer uma combinação entre medicação e psicoterapia. Se por um lado a intervenção farmacológica controla os impulsos agressivos, a psicoterapia trabalha no sentido da compreensão dos sentimentos e emoções, permitindo ao paciente criar recursos internos para lidar com as suas angústias e ansiedades de forma saudável.
Em todas as situações de Suicídio, a intervenção é necessariamente longa e persistente. A negligência do tratamento ou o abandono do mesmo põem em causa a evolução do quadro e põem em causa o bom prognóstico.

 

Prevenir o suicídio é evitar outras "mortes", pois ninguém morre sozinho. Pais, filhos, amigos, ficam imersos num mar de dor que pode levar a uma morte em vida, pela culpa internalizada e que por vezes é impossivel de ultrapassar.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ciúme (na relação amorosa)


É inaceitável amar alguém (desejar a posse total de alguém) sem a angústia que suscita a insegurança em relação à própria posse. E sem a posterior angústia de que esse alguém que diz que nos ama, e que por isso cremos possuído, possa perder-se posteriormente, quer porque deixe de amar-nos, quer porque nos possa ser subtraído por amor a outro alguém.

Qualquer relação, desde a mais precoce com a mãe, requer segurança, É a base da construção futura da personalidade. Somos mais ou menos seguros, conforme o que experimentamos ao longo dos nossos primeiros anos de vida. Se a relação com as nossas figuras de referência forem seguras, então seremos adultos seguros. Se isso não aconteceu, poderão estar criadas as condições para mais tarde sobressair uma estrutura de personalidade insegura, ciumenta e maltratante na relação com o outro amado nas relações adultas.

As nossas relações na vida social são quase sempre baseadas em graus de confiança mínima, mas que não apresentam níveis de desconfiança exacerbados. Podemos assim, mediante essa confiança mínima, realizar coisas e estabelecer relações sem que nos sintamos perseguidos ou ciumentos. O sujeito ciumento apresenta graus de desconfiança que chegam a rondar a paranoia, quando pensa que perdeu a posse da pessoa amada. O que causa o ciúme, não é o pensar que não é amado mas sim a perda da posse do outro (com quem imagina ter uma relação fusional). Isso sim é enlouquecedor, podendo em grau extremo, quando o ciumento (aplica-se a ambos os sexos) alucina e passa para estados psicóticos levar à morte do objeto e do sujeito num ato de loucura. Os crimes passionais têm por base uma estrutura de personalidade paranoide e
psicótica onde a desconfiança, a incerteza e a insegurança crescem de dia a dia, até à passagem ao acto: a morte do objeto de deixa assim de pertencer ao outro.

Não existem ciúmes considerados normais. Os ciúmes são desiguais ainda que sejam frequentes e pouco intensos. Por mais frequentes que sejam nas relações interpessoais, especialmente os que se revestem em relação amorosa, são sempre reveladores de uma situação não superada pelo sujeito. Acima de tudo é uma situação crónica que vai subindo a gradação dos ciúmes, insuperáveis e incuráveis na sua maioria, por não serem considerados pela sociedade uma situação de doença. É uma doença. Não é só considerado doença a partir de um certo grau, aliás quem tem autoridade para falar disso são as vitimas que sabem quando já não suportam mais, mas essas, raramente vão a consultas de psicologia ou psiquiatria para que possam falar disso. Amor, ciúmes, loucura e morte estão separados por muito pouco, coexistindo na vida de muitos casais de todas as orientações sexuais, tornando-a num inferno onde por vezes não é possível escapar, levando à morte lenta de vidas que ficam suspensas no delírio de alguém.

Se é vítima ou portador de ciúmes incontroláveis procure ajuda, ainda pode estar a tempo de interromper o ciclo patológico de amor.

A terapia é uma solução para problemas ao nível da relação de casal.