Na vida, nada deve ser receado, tudo deve ser compreendido.
Marie Curie

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ludoterapia

O Brincar



Foi Melanie Klein que introduziu a técnica do jogo infantil para aceder aos conflitos internos e fantasias de uma forma mais fácil que a expressão verbal. A autora (1935) defendeu esta técnica equiparando-a à associação livre nos adultos, pois o brincar é uma das formas de expressão da fantasia e através dela a criança pode projectar a sua realidade interna.

Nas crianças psicóticas, é notória uma grande inibição do jogo, o que revela uma grave inibição da vida fantasmática, bem como do seu desenvolvimento em geral. As suas relações são vividas muito externamente, como se não houvesse mundo interno.

Através do brincar imagina-se e fantasia-se, descobrem-se sentimentos, resolvem-se conflitos interiores. Uma criança que não brinca, deve preocupar mais os pais do que aquela que faz uma birra pela manhã porque não quer ir para a escola.


A Ludoterapia é a psicoterapia adaptada ao tratamento infantil através da qual a criança, ao brincar, projecta o seu modo de ser. O objectivo desta modalidade de análise consiste em ajudar a criança a expressar com maior facilidade os seus conflitos interiores e dificuldades, ajudando-a na solução dos mesmos para que seja possível uma melhor integração e adaptação social. O psicólogo clínico observa e interpreta as suas projecções para compreender o mundo interno da criança e a dinâmica da sua personalidade. Para isso, são necessários instrumentos através dos quais as projecções são facilitadas, uma vez que quanto menor é a criança, mais dificuldade tem em verbalizar adequadamente os seus conflitos. Criam-se histórias e contos de fadas, brinca-se às casinhas, realizam-se desenhos, pinturas, modelagens....

Ao brincar, a criança sabe que se está a expôr pois actua representando as situações que a afligem. Intui-se transparente ao olhar do terapeuta.

A maior parte das crianças adere de forma positiva à ludoterapia e adquire confiança suficiente, em relação ao terapeuta, para se expôr, brincando livremente.

A ludoterapia destina-se essencialmente a crianças entre os três e os doze anos de idade e pode ser aplicada individualmente ou em grupo, dependendo da abordagem adoptada, bem como da problemática a ser trabalhada.

Alguns dos motivos que levam à procura desta terapia são as dificuldades de aprendizagem, distúrbios comportamentais, especialmente agressividadedificuldades de socialização (comportamento anti-social), hiperactividade, problemas afectivos e emocionais, medos, traumas, enurese e/ou encoprese (fazer chi-chi na cama e descontrolo intestinal impróprio para a idade), baixa auto-estima, perturbações psicossomáticas (bronquite, alergias, dores de cabeça, alterações gastrointestinais...), pequenos delitos (mentiras, fugas ou pequenos furtos), ansiedade, depressão...

O tratamento é realizado em sessões de luterapia de aproximadamente 50 minutos cada, sessões estas que as crianças apreciam bastante, uma vez que não lhes é solicitada nenhuma actividade desagradável ou entediante.

De forma geral, a criança é um reflexo da dinâmica familiar, pelo que o envolvimento dos pais para o sucesso do tratamento constitui um factor fundamental. Nota-se uma melhoria nos sintomas ou até mesmo a supressão do quadro inicialmente apresentado, através da evolução das representações da criança, a nível da abordagem do tema ventral na brincadeira, no teor dos seus desenhos e no comportamento em geral.

O tempo de duração do tratamento através da ludoterapia é variável. Pode terminar ao fim das primeiras seis semanas, nos casos mais simples, como pode estender-se a um ou mais anos, em casos de dificuldades estruturais ou mais complexas.

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