“A
autodestruição surge após várias perdas, fragmentos de dias perdidos ao longo
dos anos, rupturas, pequenos conflitos que se acumulam hora a hora, a tornar
impossível olhar para si próprio. O suicídio é uma estratégia, às vezes uma
táctica de sobrevivência quando o gesto falha, tudo se modifica em redor após a
tentativa. E quando a mão certeira, não se engana no número de comprimidos ou
no tiro definitivo, a angustia intolerável cessa nesse momento e, quem sabe,
uma paz duradoura preenche quem parte. Ou, pelo contrário e talvez mais
provável, fica-se na duvida em viver ou morrer, a cabeça hesita até ao ultimo
momento, quer-se partir e continuar cá, às vezes deseja-se morrer e renascer
diferente.”
Daniel Sampaio in “ Tudo o que temos cá dentro” pág. 152.
Daniel Sampaio in “ Tudo o que temos cá dentro” pág. 152.
A maior parte das pessoas que se suicida, ou tenta o suicídio, não quer morrer. O que acontece é que vêem essa opção como uma solução para os seus problemas e uma forma de acabar com sua dor e o seu sofrimento. As pessoas que consideraram seriamente o suicídio sentem desesperança, desamparo, e desvalia.
Grande parte destes sujeitos apresentam uma história familiar e tentativas de suicídio ou suicídio consumado; uma história pessoal ou familiar de severa ansiedade, depressão ou outro distúrbio de saúde mental como a patologia Borderline ou Bipolar, por exemplo; ou ainda, problemas de ácool ou grogas.
Mecanismos Psíquicos que podem levar ao suicídio:
* Situações de sofrimento intenso em que o sujeito se esforça para se libertar do que pensa ser a origem do seu sofrimento. Ao não poder atacar o outro, a experiência da dor pode ser posta no próprio self, aparecendo a autodestruição como equivalente à destruição do outro, que não ama nem compreende;
* A dor interna intolerável implica uma tentativa de eliminação do sítio da dor, ou seja, o suicídio surge como forma de pôr fim àquela angústia devoradora;
* A autodestruição pode aparecer como forma de obter uma resposta desejada daquele que se ana e que, sem esse comportamento externo, parece insensível;
* Pode surgir como forma de vingança relativamente ao outro que se ama e que não retribui;
* O suicídio pode ainda, estar relacionado com um desejo irresistível para a autodestruição, de que são exemplo os condutores suicidas ou pessoas que colocam a sua viva em constante perigo.
O que fazer quando alguém está em crise suicidária?
Antes de mais, é preciso ter presente que nem sempre é possível nem fácil de perceber que a pessoa se encontra numa crise porque apenas se se for muito próximo desta será possível compreender um pouco o seu sofrimento. As pessoas deprimidas, nem sempre manifestam intenções de cometer o suicídio, no entanto, podem fazê-lo. Deve-se estar atento a alterações na forma de vida destes sujeitos que possam ser entendidos como indicadores de sofrimento psíquico.
Falar sobre o suicídio com alguém que pretende consumá-lo, não precipita este acontecimento, pelo contrário, pode fazer com que o sujeito se sinta compreendido e consiga ver as coisas de uma outra forma.
É muito importante que se procure uma ajuda imediata de um serviço ou de um psicólogo que faça intervenção na crise, quase sempre é necessária a intervenção psiquiátrica com a terapêutica farmacológica para o impedimento deste acto.
Não se deve deixar sozinha a pessoa que já ameaçou suicidar-se.
Deve procurar-se ajuda sempre que existam indicios de alteração de comportamento como tristeza permanente, escritos que mencionem a vontade de morrer, desleixo pessoal, bebida em excesso, consumo de drogas, procura de conflitos disruptivos, entre outros, ou comportamentos por verbalização da intenção de se suicidar.
Intervenção
A intervenção começa por uma avaliação dos riscos
de novas tentativas de suicídio. Muitas vezes a gravidade dos sentimentos
de culpa ou de raiva podem levar a novos atos de autoagressividade.
Posteriormente a intervenção pode requerer uma combinação
entre medicação e psicoterapia. Se por um lado a intervenção farmacológica
controla os impulsos agressivos, a psicoterapia trabalha no sentido da
compreensão dos sentimentos e emoções, permitindo ao paciente criar recursos
internos para lidar com as suas angústias e ansiedades de forma saudável.
Em todas as situações de Suicídio, a intervenção é
necessariamente longa e persistente. A negligência do tratamento ou o
abandono do mesmo põem em causa a evolução do quadro e põem em causa o bom
prognóstico.
Prevenir o suicídio é evitar outras "mortes", pois ninguém morre sozinho. Pais, filhos, amigos, ficam imersos num mar de dor que pode levar a uma morte em vida, pela culpa internalizada e que por vezes é impossivel de ultrapassar.
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